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Especial Primeira Guerra (parte 02): as armas e as tecnologias

  

Sempre é importante refletir sobre os horrores da guerra, não havendo sentido em alimentar o ódio e as "demonizações", sendo importante antes desconstruir vilões e heróis. Nesse sentido, o que queremos mostrar aqui são apenas alguns exemplos do poder inventivo dos seres humanos no período da Primeira Guerra Mundial, para construir e também para destruir.

Creio que valha a pena pensar que, em termos de tecnologias, somos afetados diretamente pelas guerras, sendo que muitas das coisas que são usadas "civilmente" hoje são resultados dos esforços bélicos, invenções do período 1914-1918 (ou próximos) e avanços sensíveis nas tecnologias que já eram usadas antes disso, entre os quais: os lenços de papel, o bronzeamento artificial, o relógio de pulso (já usado havia muito tempo, mas vulgarizado nesse período), o zíper, o aço inoxidável, os absorventes íntimos e a comunicação entre pilotos (veja mais no site da BBC, clique aqui).

As tecnologias de guerra, em especial, sempre foram destaque e são importantes no entendimento desse período, sobretudo a partir do início da fase de trincheiras da Guerra na Frente Ocidental, em 1915. Claro que não podemos aqui fazer um almanaque de armas e aparelhos usados, de qualquer forma, quando da construção e uso das trincheiras, em uma área que ia do Mar do Norte até a fronteira Suíça, as forças se encontraram estacionárias e imperou certo impasse pelo menos até 1917 - violado com o avanço suicida sobre a "terra de ninguém" (espaço de terra entre as trincheiras, coberto de crateras, arames farpados e corpos). 

Antes disso, tendo em vista as estratégias quando os conflitos tiveram seu início, quase todos os generais estavam apegados à formas de combate do século XIX, algumas ainda do período napoleônico, não imaginando os efeitos de metralhadoras, lança-chamas e artilharias pesadas em ação. Para que se tenha ideia, em alguns confrontos foram usados cavalos, espadas e baionetas; além dos uniformes franceses que no início nem eram camuflados. 

Artilharia pesada em ação

Já nos primeiros anos, a Alemanha colocaria em ação sua indústria química, na qual era superior, que mostrou os novos efeitos dos bombardeios de gás venenoso, empregados em larga escala pela primeira vez pelos alemães na segunda batalha de Ypres, em abril de 1915. Tão bárbaro e ineficaz, como disse Eric Hobsbawm, que ocasionou o único "caso autêntico de repulsa humanitária governamental a um meio de fazer a guerra, a Convenção de Genebra de 1925", pela qual o mundo se comprometeria a nunca mais usar guerra química - o que seria violado em outros conflitos ao longo do século XX**.

Ilustração do Tenente W. G. Thayer, da Divisão de Defesa contra Gases do Exército dos EUA

Das armas que fizeram sua estréia na Primeira Guerra, os aviões, ainda que muito limitados, se mostraram importantes para determinar os rumos dos enfrentamentos. A questão era conseguir desenvolver o modelo certo para cada ação específica, sendo, nesse sentido, difícil dizer quais foram os melhores aviões da Primeira Guerra, mas podemos mencionar alguns deles. Os britânicos no início da guerra tinham o multi-uso BE.2c, com uma velocidade de 116 km/h, impulsionado por um motor de 90HP, e com autonomia de voo de três horas. 

Já no final da guerra, os aviões passaram a ser desenhados para tarefas específicas. Foi o que aconteceu com o caça SE.5ade 1917, que para ter rapidez e facilidade de manobra, possuía um motor de 200HP e velocidade máxima de 222 km/h. Já alguns outros aviões famosos, como o inglês Sopwith Camel e o triplano alemão Fokker DR.1, eram difíceis de se voar, mas extremamente ágeis.

Sopwith Camel do Royal Flying Corps (1914-1916)

E por falar em aviação, entre os pilotos lendários da Grande Guerra destacou-se o Barão Vermelho, citado na primeira postagem, que é reverenciado até hoje na Alemanha. Manfred von Richthofen, considerado um dos ases da aviação alemã, pilotando seu Fokker DR.1, fez sua fama derrubando mais de 80 aviões inimigos. Seu fim só viria quando, nos céus de intensa presença de aviões sobre o rio Somme na França, foi abatido pelo fogo de artilharia dos Aliados, em 21 de abril de 1918.

Réplica do Folker DR.1 para montar da Revell

Outras armas a fazerem sua estreia foram os tanques, ainda que em condições igualmente precárias e experimentais até. Eles serviram aos ingleses como arma tática de apoio a infantaria. Entre eles, os modelos britânicos Mark, do I a V, fizeram parte de uma família de veículos blindados que, a partir do final da Primeira Guerra viriam a revolucionar o conflito, e em determinadas condições ter influência decisiva nas batalhas terrestres***. A Alemanha contava, entre outros, com o Sturmpanzerwagen A7V.


Mark IV em ação

Algumas das peças de destaque na Primeira Guerra seriam os submarinos. Usados em guerra pela primeira vez na de independência dos EUA, ainda no século XVIII, os submarinos, serão profundamente aprimorados pelos alemães, se tornando uma peça importante do seu exército, assim como para o outro lado em conflito, quando o assunto for o domínio dos mares. Suas funções foram tanto para defesa, quanto para o afundamento de navios de carga e fizeram estragos tais que influenciaram mais que qualquer outra coisa na entrada dos EUA na Guerra. Hobsbawm bem lembrou que

"A única arma tecnológica que teve um efeito importante na guerra em 1914-1918 foi o submarino, pois os dois lados, incapazes de derrotar os soldados um do outro, decidiram matar de fome os civis do adversário"**.


Navio mercante inglês SS Maplewood, sendo torpedeado pelo SM U-35 (7/abr/1917) 

Já os navios não eram novidade, mas receberam grandes melhorias em suas categorias de combate. Se bem que a maioria das batalhas tenha se concentrado em terra, temos a participação de navios de guerra em algumas batalhas importantes, como a Batalha de Gallipoli e a que é considerada por muitos a maior batalha naval da história, a de Jutlândia. Aos navios coube ainda e em especial um papel importante na tarefa de suprir, se conseguissem. 

Por fim, a rapidez nas inovações e o grau de destruição (ou não) se mostrariam cada vez mais determinantes no peso que se ia colocando nos pratos da balança dos beligerantes; algo que se somava ao desgaste de ambos os lados, ensanguentados que se tornavam, ganhando novo gás e impulso com a entrada dos norte-americanos em 1917, num momento em que a sorte parecia pender para os alemães. Isso porque os EUA, intocados em seus próprios territórios, trouxeram consigo uma enxurrada de esforços e equipamentos.  

Sugestão de livro:

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* Imagem do topo mostra quatro soldados em ruínas de Bucy-le-Long, distrito de Soissons, Aisne, França (1917).

** HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX (1914-1991).Cia das Letras, 1995.

*** Mark I (tanque de guerra) - Wikipedia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Mark_I_(tanque_de_guerra).

Outras fontes:

OperaMundi - Manfred von Richthofen - o Barão Vermelho: http://operamundi.uol.com.br/conteudo/historia/28480/hoje+na+historia+1918+-+aviador+manfred+von+richthofen+o+barao+vermelho+e+abatido+pelos+aliados.shtml

BBC - O zíper e outras invenções popularizadas graças à Primeira Guerra Mundialhttp://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/04/140414_inventions_first_war_mv.shtml

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